Inflação deve ficar em 0,10% no mês e refletir alta de tributos até o fim do ano

Apesar de os últimos dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), terem demonstrado queda de 0,18%, após a alta de 0,16% no mesmo indicador do mês passado, o fim dos impactos de alimentos, transportes e energia devem elevar a inflação do mês. No IPCA total de junho, a deflação registrada foi de 0,23%.
De acordo com o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, os reflexos que favoreciam os números mais negativos na inflação do mês passado tendem a arrefecer nos próximos 15 dias.
"O efeito sazonal que refletiam queda nos preços de alimentos in natura, por exemplo, já está se esgotando. Na gasolina, a perspectiva de aumento de impostos nos combustíveis já colabora para refrear esses resultados e, por fim, o impacto dos ajustes na energia elétrica deve se esgotar até o fim do mês", explica.
Braz reforça que, nessa linha, a expectativa é que a inflação deste mês volte a subir e alcance os 0,10%. "Isso vai, sim, trazer a inflação para um terreno positivo", completa.
Dentre os grupos com maior peso, a queda de 0,55% (Alimentos e Bebidas) e de 0,64% (Transportes) vieram, de um lado, por batata-inglesa (-19%), tomate (-8,48%) e frutas (-4%) e, de outro, por combustíveis, que caíram 3,16% no indicador, liderado principalmente por etanol (-4,81%) e gasolina (-2,98%).
Segundo o economista do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Eduardo Reis de Araújo, o efeito deve se estender até o final do ano.
"A imprevisibilidade impossibilita um controle mais acirrado na inflação e, com tributos maiores em combustíveis, os próximos meses devem mostrar alta de preços para o grupo transportes, principalmente porque o reflexo real disso deve começar apenas no final de agosto", analisa.
Para o professor de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Odilon Guedes, a queda mais acentuada do IPCA e sua "sustentabilidade" ao longo deste e do próximo ano dependem do panorama geral do País.
"O cenário dificulta medidas efetivas para retomada por parte do governo e isso segura a inflação pra baixo. De qualquer forma, a saída é esperar para ver", completa.
"Vigilante e cauteloso"
Os especialistas consultados pelo DCI ponderam, no entanto, que mesmo com a inflação atingindo os patamares mais baixos desde 2010, o ambiente político e econômico do País tende a prorrogar o conservadorismo por parte do Banco Central, diminuindo um pouco da intensidade de cortes na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,25% ao ano.
"Os preços, como estão, abrem muito espaço para uma ação mais agressiva na redução dos juros, mas as indicativas de que a crise política persistirá, traz insegurança demais", justifica Guedes.
A expectativa de que o aumento de impostos em combustíveis "abra mais portas" para altas nos demais tributo, somada às incertezas climáticas e políticas, "aumentam o conservadorismo".
"Derrubar um ponto na Selic é muito agressivo para um BC que está vigilante e cauteloso", afirma Araújo.
"Além disso, apesar do acerto na política monetária, muito da inflação é segurado pela fraca atividade econômica e a dúvida é se o indicador aguentará a retomada do País. Nessa altura, é impossível medir o quanto o IPCA é perene e se conseguirá se manter decente até 2019, quando o ambiente político deve ter fôlego", conclui o economista da Cofecon.
Apesar da inflação maior esperada para os próximos meses, no entanto, a expectativa é de que o indicador continue entre 3% e 3,5% em 2017.
Fonte: DCI São Paulo