Mercado de queijos cresce no país e atrai estrangeiros
O melhor exemplo recente desse movimento é a francesa Lactalis, que acaba de aquirir unidades da LBR - Lácteos Brasil e da BRF e já tinha ingressado no país, no ano passado, por meio da compra de uma empresa especializada em queijos, a Balkis.
Mas, diante do potencial desse mercado no Brasil, o interesse de empresas estrangeiras do segmento deve perdurar. A Emmi, por exemplo, líder em lácteos da Suíça, com receita líquida de € 2,68 bilhões no ano passado, é uma das que já prospectaram - e continuam a prospectar - oportunidades no país. A empresa já exporta seus queijos finos para o Brasil.
Questionada pelo Valor sobre o assunto, a Emmi respondeu, por meio de sua assessoria de comunicação, que, "considerando que os mercados europeus estão saturados, as atenções se voltam mais para mercados a desenvolver".
A companhia acrescentou, em nota, que os países da América Latina são interessantes para a empresa, uma vez que a Emmi já tem operações no Chile e no México. "A opção principal será então reforçar as atividades nesses mercados e, eventualmente, entrar num mercado adicional, entre os quais o Brasil é uma opção".
Empresas brasileiras também acreditam no potencial de crescimento do mercado de queijos e têm investido para ampliar a produção. É o caso Tirolez (ver Tirolez investirá R$ 100 milhões até 2017 para ampliar produção).
Basta olhar os números do segmento no Brasil - principalmente os dados de consumo - para entender a lógica que move a estratégia dessas companhias. No Brasil, o consumo médio per capita de queijos é de apenas 5,1 quilos por ano. Muito atrás de países europeus ou mesmo da vizinha Argentina, onde alcança 11 quilos. Na França e Itália, por exemplo, o consumo é de cerca de 25 quilos per capita ano, enquanto em toda a Europa a média é de 20 quilos, segundo Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq). "Não há mais onde crescer nesses países", afirma Scarcelli, referindo-se ao mercado consumidor já maduro da Europa.
Quando esteve no Brasil, em agosto passado, na época das negociações finais para adquirir ativos da LBR e da BRF, o diretor de fusões e aquisições da Lactalis, Erick Boutry, não escondeu seu entusiasmo com o mercado de lácteos do Brasil. "Estou aqui por causa de LBR, BRF e de outras [empresas]", afirmou, na ocasião, ao Valor. Entre as unidades que a francesa comprou da LBR estão duas fábricas de queijos.
Pelas estimativas da Abiq, o consumo per capita de queijos no Brasil deverá alcançar 11 quilos, em média, em 2030, depois de ter avançado 76% entre 2005 e 2013 (ver gráfico). Considerando o consumo total, o avanço foi de 8% a 9% ao ano, em média, nos últimos anos. Em 2013, alcançou 1,032 milhão de toneladas.
O presidente da Abiq afirma que o aumento do consumo fora de casa - em restaurantes, por exemplo - foi uma das principais razões para o crescimento da demanda por queijos. Além disso, o avanço da renda da população também contribuiu. "O food service cresce a taxas superiores ao varejo", observa.
Nesses últimos anos, acrescenta, a indústria de queijo também ampliou a oferta de produtos à venda no mercado. Silmara Figueiredo, da área de marketing da Abiq, afirma que no Brasil há um mercado diversificado de famílias de queijos. "As pessoas estão experimentando novos sabores", avalia Scarcelli.
Outro fator que explica o avanço da demanda pelo produto, além da renda e de mudanças nos hábitos de consumo, é o próprio crescimento vegetativo da população. "Quem não consumia passou a consumir e quem já consumia está consumido mais", diz. Mas ainda é possível crescer mais. "A pessoas passaram a comprar, mas ainda há espaço para continuar crescendo", reitera Silmara.
A estimativa da Abiq é de que o consumo total deve avançar 5% a 6% este ano, abaixo da média dos últimos anos. Alguns fatores podem explicar essa redução no ritmo de crescimento: houve meses de menor demanda por conta da Copa do Mundo e o inverno - que normalmente puxa o consumo de queijos especiais - não foi tão rigoroso, conforme a Abiq.
Do total de 1,032 milhão de toneladas de queijos consumidas no Brasil em 2013, uma fatia de 3% foram produtos importados, conforme os dados da associação. Os números só consideram queijos fabricados por empresas com algum tipo de inspeção sanitária (federal, estadual ou municipal).
A Abiq tem 80 associados no Brasil, que respondem por 70% da produção nacional de queijos. "Esse dado mostra que há potencial para crescer ", reforça o presidente da Abiq. Também há potencial para diversificação, já que atualmente 70% do queijo consumido no Brasil são dos tipos mozarela, prato e requeijão.
Scarcelli vê de forma positiva a vinda de "empresas mundiais" de lácteos para o Brasil. Isso porque, afirma, elas trazem inovações, tecnologia e estimulam as práticas para alcançar boa qualidade. Silmara Figueiredo acrescenta que a chegada desses players estimula a busca por produtividade e eficiência.
Valter Galan, sócio do MilkPoint Inteligência, braço de consultoria do MilkPoint, vai na mesma direção e afirma que a vinda de empresas como a francesa Lactalis "ajuda a elevar o patamar de qualidade no segmento (...) e estimula a profissionalização do mercado".
Tirolez investirá R$ 100 milhões até 2017 para ampliar produção
Fundada há quase 35 anos em Minas Gerais por dois irmãos paulistas - Cícero e Carlos Hegg -, a Tirolez é um dos laticínios de capital nacional que têm elevado a aposta no avanço do segmento de queijos no Brasil.
Com cinco fábricas em três Estados, a companhia deverá começar a operar sua sexta unidade na cidade de Lins (SP) em dezembro. De acordo com Cícero Hegg, parte da produção da fábrica de Monte Aprazível (SP), de queijos cottage e requeijão, por exemplo, será transferida para a unidade de Lins, cuja planta foi adquirida no ano passado.
Além de ter comprado a fábrica linense, a Tirolez planeja investir cerca de R$ 100 milhões nos próximos três anos para ampliar a produção de queijos. Tem um novo projeto para Monte Aprazível previsto para 2017, para uma linha de queijos frescos, e um projeto de expansão em Caxambu do Sul (SC) para 2016, para elevar a produção de mozzarela, massa láctea e queijo ralado.
A unidade de Tiros (MG), a primeira do grupo, também será ampliada para permitir a produção de uma nova linha de queijos. Hegg afirma que a intenção é financiar os investimentos em parte com recursos de bancos de fomento, como o BNDES.
Atualmente, a Tirolez processa 700 mil litros de leite por dia em suas unidades, mas a capacidade deverá crescer para 850 mil litros até o fim deste ano, segundo ele.
A empresa, que desde janeiro do ano passado tem acordo para distribuição do queijo fundido La Vache qui Rit (A vaca que ri) da francesa Bel no Brasil, esperava elevar seu faturamento em 20% este ano, porém o objetivo não deve ser alcançado. "Mas ainda deve ser um crescimento de dois dígitos", estima o empresário. Hegg não revela o faturamento da companhia.
Para o empresário, "em 2014, o mercado não aconteceu", o que explica o crescimento menor do que o previsto. Ele observa, entretanto, que a queda da demanda por bens duráveis em decorrência da desaceleração econômica do país pode favorecer a venda de alimentos.
Com um portfólio variado de queijos, incluindo os chamados especiais como emental, gruyère e gouda, a Tirolez é uma empresa cobiçada no mercado. O próprio Cícero Hegg não esconde que já houve assédio por parte de empresas estrangeiras, embora seja lacônico sobre o tema.
Em sua opinião, a chegada de gigantes como a Lactalis ao mercado brasileiro é positiva, pois "faz a categoria crescer". Além disso, a maior concorrência estimula a criatividade no segmento, avalia. E Hegg não se intimida. "Não é porque chegou a maior do mundo aqui, que não há mais espaço [no mercado]. Há muito espaço", assegura.
As outras duas unidades da Tirolez estão em Arapuá e Carmo do Paranaíba, em Minas Gerais. Em todas as plantas, a empresa tem 1,2 mil funcionários.
Mas, diante do potencial desse mercado no Brasil, o interesse de empresas estrangeiras do segmento deve perdurar. A Emmi, por exemplo, líder em lácteos da Suíça, com receita líquida de € 2,68 bilhões no ano passado, é uma das que já prospectaram - e continuam a prospectar - oportunidades no país. A empresa já exporta seus queijos finos para o Brasil.
Questionada pelo Valor sobre o assunto, a Emmi respondeu, por meio de sua assessoria de comunicação, que, "considerando que os mercados europeus estão saturados, as atenções se voltam mais para mercados a desenvolver".
A companhia acrescentou, em nota, que os países da América Latina são interessantes para a empresa, uma vez que a Emmi já tem operações no Chile e no México. "A opção principal será então reforçar as atividades nesses mercados e, eventualmente, entrar num mercado adicional, entre os quais o Brasil é uma opção".
Empresas brasileiras também acreditam no potencial de crescimento do mercado de queijos e têm investido para ampliar a produção. É o caso Tirolez (ver Tirolez investirá R$ 100 milhões até 2017 para ampliar produção).
Basta olhar os números do segmento no Brasil - principalmente os dados de consumo - para entender a lógica que move a estratégia dessas companhias. No Brasil, o consumo médio per capita de queijos é de apenas 5,1 quilos por ano. Muito atrás de países europeus ou mesmo da vizinha Argentina, onde alcança 11 quilos. Na França e Itália, por exemplo, o consumo é de cerca de 25 quilos per capita ano, enquanto em toda a Europa a média é de 20 quilos, segundo Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq). "Não há mais onde crescer nesses países", afirma Scarcelli, referindo-se ao mercado consumidor já maduro da Europa.
Quando esteve no Brasil, em agosto passado, na época das negociações finais para adquirir ativos da LBR e da BRF, o diretor de fusões e aquisições da Lactalis, Erick Boutry, não escondeu seu entusiasmo com o mercado de lácteos do Brasil. "Estou aqui por causa de LBR, BRF e de outras [empresas]", afirmou, na ocasião, ao Valor. Entre as unidades que a francesa comprou da LBR estão duas fábricas de queijos.
Pelas estimativas da Abiq, o consumo per capita de queijos no Brasil deverá alcançar 11 quilos, em média, em 2030, depois de ter avançado 76% entre 2005 e 2013 (ver gráfico). Considerando o consumo total, o avanço foi de 8% a 9% ao ano, em média, nos últimos anos. Em 2013, alcançou 1,032 milhão de toneladas.
O presidente da Abiq afirma que o aumento do consumo fora de casa - em restaurantes, por exemplo - foi uma das principais razões para o crescimento da demanda por queijos. Além disso, o avanço da renda da população também contribuiu. "O food service cresce a taxas superiores ao varejo", observa.
Nesses últimos anos, acrescenta, a indústria de queijo também ampliou a oferta de produtos à venda no mercado. Silmara Figueiredo, da área de marketing da Abiq, afirma que no Brasil há um mercado diversificado de famílias de queijos. "As pessoas estão experimentando novos sabores", avalia Scarcelli.
Outro fator que explica o avanço da demanda pelo produto, além da renda e de mudanças nos hábitos de consumo, é o próprio crescimento vegetativo da população. "Quem não consumia passou a consumir e quem já consumia está consumido mais", diz. Mas ainda é possível crescer mais. "A pessoas passaram a comprar, mas ainda há espaço para continuar crescendo", reitera Silmara.
A estimativa da Abiq é de que o consumo total deve avançar 5% a 6% este ano, abaixo da média dos últimos anos. Alguns fatores podem explicar essa redução no ritmo de crescimento: houve meses de menor demanda por conta da Copa do Mundo e o inverno - que normalmente puxa o consumo de queijos especiais - não foi tão rigoroso, conforme a Abiq.
Do total de 1,032 milhão de toneladas de queijos consumidas no Brasil em 2013, uma fatia de 3% foram produtos importados, conforme os dados da associação. Os números só consideram queijos fabricados por empresas com algum tipo de inspeção sanitária (federal, estadual ou municipal).
A Abiq tem 80 associados no Brasil, que respondem por 70% da produção nacional de queijos. "Esse dado mostra que há potencial para crescer ", reforça o presidente da Abiq. Também há potencial para diversificação, já que atualmente 70% do queijo consumido no Brasil são dos tipos mozarela, prato e requeijão.
Scarcelli vê de forma positiva a vinda de "empresas mundiais" de lácteos para o Brasil. Isso porque, afirma, elas trazem inovações, tecnologia e estimulam as práticas para alcançar boa qualidade. Silmara Figueiredo acrescenta que a chegada desses players estimula a busca por produtividade e eficiência.
Valter Galan, sócio do MilkPoint Inteligência, braço de consultoria do MilkPoint, vai na mesma direção e afirma que a vinda de empresas como a francesa Lactalis "ajuda a elevar o patamar de qualidade no segmento (...) e estimula a profissionalização do mercado".
Tirolez investirá R$ 100 milhões até 2017 para ampliar produção
Fundada há quase 35 anos em Minas Gerais por dois irmãos paulistas - Cícero e Carlos Hegg -, a Tirolez é um dos laticínios de capital nacional que têm elevado a aposta no avanço do segmento de queijos no Brasil.
Com cinco fábricas em três Estados, a companhia deverá começar a operar sua sexta unidade na cidade de Lins (SP) em dezembro. De acordo com Cícero Hegg, parte da produção da fábrica de Monte Aprazível (SP), de queijos cottage e requeijão, por exemplo, será transferida para a unidade de Lins, cuja planta foi adquirida no ano passado.
Além de ter comprado a fábrica linense, a Tirolez planeja investir cerca de R$ 100 milhões nos próximos três anos para ampliar a produção de queijos. Tem um novo projeto para Monte Aprazível previsto para 2017, para uma linha de queijos frescos, e um projeto de expansão em Caxambu do Sul (SC) para 2016, para elevar a produção de mozzarela, massa láctea e queijo ralado.
A unidade de Tiros (MG), a primeira do grupo, também será ampliada para permitir a produção de uma nova linha de queijos. Hegg afirma que a intenção é financiar os investimentos em parte com recursos de bancos de fomento, como o BNDES.
Atualmente, a Tirolez processa 700 mil litros de leite por dia em suas unidades, mas a capacidade deverá crescer para 850 mil litros até o fim deste ano, segundo ele.
A empresa, que desde janeiro do ano passado tem acordo para distribuição do queijo fundido La Vache qui Rit (A vaca que ri) da francesa Bel no Brasil, esperava elevar seu faturamento em 20% este ano, porém o objetivo não deve ser alcançado. "Mas ainda deve ser um crescimento de dois dígitos", estima o empresário. Hegg não revela o faturamento da companhia.
Para o empresário, "em 2014, o mercado não aconteceu", o que explica o crescimento menor do que o previsto. Ele observa, entretanto, que a queda da demanda por bens duráveis em decorrência da desaceleração econômica do país pode favorecer a venda de alimentos.
Com um portfólio variado de queijos, incluindo os chamados especiais como emental, gruyère e gouda, a Tirolez é uma empresa cobiçada no mercado. O próprio Cícero Hegg não esconde que já houve assédio por parte de empresas estrangeiras, embora seja lacônico sobre o tema.
Em sua opinião, a chegada de gigantes como a Lactalis ao mercado brasileiro é positiva, pois "faz a categoria crescer". Além disso, a maior concorrência estimula a criatividade no segmento, avalia. E Hegg não se intimida. "Não é porque chegou a maior do mundo aqui, que não há mais espaço [no mercado]. Há muito espaço", assegura.
As outras duas unidades da Tirolez estão em Arapuá e Carmo do Paranaíba, em Minas Gerais. Em todas as plantas, a empresa tem 1,2 mil funcionários.
Fonte: Valor Econômico