Papai Noel não salva, mas pode ajudar o varejo

As várias pesquisas feitas por muitos institutos têm mostrado que o comportamento dos consumidores reflete duas realidades perversas da recessão num país com crédito caríssimo: alto endividamento e medo do desemprego. O primeiro consome a renda com voracidade felina – se a maior parte das dívidas é com cartão de crédito e ele cobra juros de quase 500% ao ano...o que sobra na carteira?
O segundo consome a serenidade emocional exigida em tempos bicudos. Mesmo para quem ainda mantém o emprego, ou perdeu o posto mas encontrou alguma fonte de renda informal, a ameaça de ficar sem nada, ronda. A piora dos dados da atividade econômica no terceiro trimestre do ano provocou um recuo na confiança dos consumidores, claro, não poderia ser diferente. Para voltar a acreditar na melhora, o ambiente político vai ter que ajudar muito.
O governo ensaia novo pacote de medidas com a promessa de ajudar o país a sair da crise. Uma das alternativas que estão sendo discutidas é a liberação do FGTS para que as pessoas quitem dívidas. Do ponto de vista financeiro faz todo sentido: a pessoa que tem dinheiro no fundo recebe 3% de rendimento ao ano e paga 480% ao cartão de crédito. Do ponto de vista operacional é mais complexo e pode ser um obstáculo à implementação.
Não valendo milagre ou mágica, é praticamente impossível que o governo tire da cartola um coelho que alivie as famílias brasileiras no curto prazo. O mesmo vale para as medidas que estão sendo pensadas para ajudar empresas endividadas. O que o novo pacote pode oferecer é algum direcionamento, alguma alternativa para que consumidores e empresários consigam seguir em frente.
Não precisando ir de carro, quem sabe. No posto de gasolina, a saída de combustíveis foi 9,9% menor entre outubro deste ano e de 2015, segundo IBGE. Sem falar no preço da gasolina que não caiu quando a Petrobras reduziu o valor para as distribuidoras – mas subiu rapidamente quando a estatal anunciou reajuste para cima nos combustíveis.
Com carro na garagem, a despensa mais vazia, o armário do banheiro sem o perfume preferido, a frustração com a recuperação da economia e os juros do cartão de crédito batendo à porta, os consumidores têm pouco ânimo para sair de casa e gastar. Há chances do Natal alentar os comerciantes desde que ninguém conte com ajuda do Papai Noel.
Fonte: G1