Para crescer, Redes de Supermercados apostam em 'Mercadinhos'
Estudo feito pela consultoria Euromonitor, obtido com exclusividade pelo Estado, mostra que as pequenas lojas das grandes redes varejistas aumentaram em 15% as vendas em dólar no ano passado em relação a 2013, enquanto o faturamento dos hipermercados, dos supermercados e do pequeno varejo independente cresceu 0,5%, 2,3% e 0,5%, respectivamente.
O brasileiro está mudando o hábito de consumo: no "passado fazia compra do mês e agora, do dia ou da semana", afirma Marcela Viana, analista de pesquisa de mercado da Euromonitor Internacional, que acompanha esse mercado em 80 países. Ela observa que o varejo de vizinhança tem posição de destaque em países desenvolvidos, como no Japão, onde movimentou US$ 113,5 bilhões no ano passado. No mundo, o Brasil ocupou a 12.ª posição na lista de países que mais aumentaram as vendas em 2014. Juntas, as pequenas lojas das grandes redes, com até 400 m², faturaram US$ 250,1 milhões no País. Até 2019, essa cifra pode somar US$ 412,9 milhões, com alta de 64,7%.
Alguns fatores explicam esse potencial de crescimento: o consumidor quer praticidade na hora de fazer as compras, sem ter de percorrer grandes distâncias para chegar ao mercado. Além disso, o poder aquisitivo da população melhorou, especialmente com um maior número de mulheres no mercado de trabalho. Trata-se de um cenário muito diferente do de 20 anos atrás, quando os hipermercados eram os "queridinhos" do consumidor que, na prática, era um "caçador" de ofertas para se defender da inflação de 40% ao mês.
Para Caio Gouvêa, sócio da GS&MD, não foi só o perfil do consumidor que fez aumentar o interesse das grandes redes pelo mercado de vizinhança. A especulação imobiliária, que encareceu os imóveis, acabou dificultando a expansão dos hipermercados, obrigando as varejistas a buscar alternativas.
Demanda
"As lojas de vizinhança de grandes redes surgiram e estão crescendo por causa da demanda do cliente por praticidade", diz o diretor de formato de proximidade do Grupo Pão de Açúcar, Renato Giarola. O GPA atua nesse segmento com duas bandeiras. O Minimercado Extra, lançado em 2011, é voltado para a venda de produtos básicos para todas as classes. A outra bandeira é o Minuto Pão de Açúcar, que começou em junho de 2014, e está focado no público de maior renda que compra produtos diferenciados, como bebidas importadas. Segundo o executivo, as duas bandeiras crescem dois dígitos.
Hoje, o GPA tem 256 lojas das duas bandeiras, sendo 241 do Minimercado e 15 do Minuto. A meta é abrir mais 300 lojas até o fim de 2016, que devem consumir investimentos de R$ 290 milhões. Um terço das lojas terá a bandeira Minuto e o restante será Minimercado. O formato de proximidade é o que tem maior abertura de lojas programadas no grupo para os próximos anos. "Já temos previsão de abrir lojas de vizinhança no Nordeste até o fim deste semestre", conta Giarola. Hoje, esse formato só existe no Estado de São Paulo e o grupo ergueu um centro de distribuição só para abastecer essas lojas.
Cinco anos atrás, o Carrefour abriu sua loja de vizinhança, mas desistiu porque, na época, não era o que o consumidor buscava, explica Marcela, da Euromonitor. A nova investida no setor ocorreu em agosto do ano passado, com a bandeira Carrefour Express. São lojas de 200 m², com cerca de 2,7 mil itens básicos e de consumo rápido.
O Carrefour não revela os planos para esse formato, mas já tem um centro de distribuição exclusivo capaz de atender 100 lojas desse tipo. O grupo fechou 2014 com quatro Carrefour Express. O formato de vizinhança foi o que mais inaugurou lojas em 2014, atrás do atacarejo, mistura de atacado com varejo.
A rede espanhola Dia% é outra que aposta no mercado de vizinhança com a nova bandeira Dia Market. Procurada, a empresa não forneceu informações. Mas, segundo fontes do mercado, há 15 lojas em operação em São Paulo.
Consumidores querem economizar tempo
Não importa se o consumidor tem mais ou menos renda. Quando ele opta por comprar alimentos ou produtos de higiene em lojas de vizinhança, está em busca de uma coisa só: economia de tempo.
A médica Maria Fernanda Guazeelli, de 40 anos, casada e sem filhos, reduziu as idas ao supermercado e ao hipermercado que aconteciam a cada 40 dias. Sua preferência agora é ir uma vez por semana à loja de vizinhança. "Aqui gasto 15 minutos; no supermercado perdia uma hora nas compras", disse.
Na quinta-feira passada, ela aproveitava a hora do almoço para fazer as compras numa loja de vizinhança de uma grande rede varejista no bairro dos Jardins, voltada para consumidores com maior poder aquisitivo. Maria Fernanda esperava gastar R$ 200 com as compras da semana.
A poucas quadras da loja onde a médica fazia a compra semanal, o designer gráfico Michael Rodrigues, de 21 anos, também aproveitava a hora do almoço para fazer compras numa loja de vizinhança de uma grande rede varejista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Brigadeiro Luís Antônio. Boa parte dos itens vendidos na loja em que ele estava é básica ou de consumo rápido. "Aqui ganho tempo", disse o designer, que estava levando seu almoço para o escritório: um nhoque congelado para colocar no forno de micro-ondas.
Além do ganho de tempo, o designer vê outra vantagem em comprar na loja de vizinhança: gastar menos com o almoço. Ele pagou R$ 5 na massa congelada. Se fizesse uma refeição num restaurante por quilo da região desembolsaria R$ 17.
Costume. A jornalista Juliana Franco, de 35 anos, casada e mãe de um bebê de 8 meses, contou que costuma frequentar lojas de vizinhança. "É uma mão na roda." Ela vai a esse tipo de loja a cada dois ou três dias. "A vantagem dessas lojas é a rapidez: em menos de dez minutos faço a compra", disse ela.
Na opinião de Juliana, os preços das lojas de vizinhança não são tão diferentes dos preços dos supermercados no caso de itens industrializados. Mas quando os produtos agregam serviços, como a salada pronta para o consumo, o valor cobrado é mais alto.
O brasileiro está mudando o hábito de consumo: no "passado fazia compra do mês e agora, do dia ou da semana", afirma Marcela Viana, analista de pesquisa de mercado da Euromonitor Internacional, que acompanha esse mercado em 80 países. Ela observa que o varejo de vizinhança tem posição de destaque em países desenvolvidos, como no Japão, onde movimentou US$ 113,5 bilhões no ano passado. No mundo, o Brasil ocupou a 12.ª posição na lista de países que mais aumentaram as vendas em 2014. Juntas, as pequenas lojas das grandes redes, com até 400 m², faturaram US$ 250,1 milhões no País. Até 2019, essa cifra pode somar US$ 412,9 milhões, com alta de 64,7%.
Alguns fatores explicam esse potencial de crescimento: o consumidor quer praticidade na hora de fazer as compras, sem ter de percorrer grandes distâncias para chegar ao mercado. Além disso, o poder aquisitivo da população melhorou, especialmente com um maior número de mulheres no mercado de trabalho. Trata-se de um cenário muito diferente do de 20 anos atrás, quando os hipermercados eram os "queridinhos" do consumidor que, na prática, era um "caçador" de ofertas para se defender da inflação de 40% ao mês.
Para Caio Gouvêa, sócio da GS&MD, não foi só o perfil do consumidor que fez aumentar o interesse das grandes redes pelo mercado de vizinhança. A especulação imobiliária, que encareceu os imóveis, acabou dificultando a expansão dos hipermercados, obrigando as varejistas a buscar alternativas.
Demanda
"As lojas de vizinhança de grandes redes surgiram e estão crescendo por causa da demanda do cliente por praticidade", diz o diretor de formato de proximidade do Grupo Pão de Açúcar, Renato Giarola. O GPA atua nesse segmento com duas bandeiras. O Minimercado Extra, lançado em 2011, é voltado para a venda de produtos básicos para todas as classes. A outra bandeira é o Minuto Pão de Açúcar, que começou em junho de 2014, e está focado no público de maior renda que compra produtos diferenciados, como bebidas importadas. Segundo o executivo, as duas bandeiras crescem dois dígitos.
Hoje, o GPA tem 256 lojas das duas bandeiras, sendo 241 do Minimercado e 15 do Minuto. A meta é abrir mais 300 lojas até o fim de 2016, que devem consumir investimentos de R$ 290 milhões. Um terço das lojas terá a bandeira Minuto e o restante será Minimercado. O formato de proximidade é o que tem maior abertura de lojas programadas no grupo para os próximos anos. "Já temos previsão de abrir lojas de vizinhança no Nordeste até o fim deste semestre", conta Giarola. Hoje, esse formato só existe no Estado de São Paulo e o grupo ergueu um centro de distribuição só para abastecer essas lojas.
Cinco anos atrás, o Carrefour abriu sua loja de vizinhança, mas desistiu porque, na época, não era o que o consumidor buscava, explica Marcela, da Euromonitor. A nova investida no setor ocorreu em agosto do ano passado, com a bandeira Carrefour Express. São lojas de 200 m², com cerca de 2,7 mil itens básicos e de consumo rápido.
O Carrefour não revela os planos para esse formato, mas já tem um centro de distribuição exclusivo capaz de atender 100 lojas desse tipo. O grupo fechou 2014 com quatro Carrefour Express. O formato de vizinhança foi o que mais inaugurou lojas em 2014, atrás do atacarejo, mistura de atacado com varejo.
A rede espanhola Dia% é outra que aposta no mercado de vizinhança com a nova bandeira Dia Market. Procurada, a empresa não forneceu informações. Mas, segundo fontes do mercado, há 15 lojas em operação em São Paulo.
Consumidores querem economizar tempo
Não importa se o consumidor tem mais ou menos renda. Quando ele opta por comprar alimentos ou produtos de higiene em lojas de vizinhança, está em busca de uma coisa só: economia de tempo.
A médica Maria Fernanda Guazeelli, de 40 anos, casada e sem filhos, reduziu as idas ao supermercado e ao hipermercado que aconteciam a cada 40 dias. Sua preferência agora é ir uma vez por semana à loja de vizinhança. "Aqui gasto 15 minutos; no supermercado perdia uma hora nas compras", disse.
Na quinta-feira passada, ela aproveitava a hora do almoço para fazer as compras numa loja de vizinhança de uma grande rede varejista no bairro dos Jardins, voltada para consumidores com maior poder aquisitivo. Maria Fernanda esperava gastar R$ 200 com as compras da semana.
A poucas quadras da loja onde a médica fazia a compra semanal, o designer gráfico Michael Rodrigues, de 21 anos, também aproveitava a hora do almoço para fazer compras numa loja de vizinhança de uma grande rede varejista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Brigadeiro Luís Antônio. Boa parte dos itens vendidos na loja em que ele estava é básica ou de consumo rápido. "Aqui ganho tempo", disse o designer, que estava levando seu almoço para o escritório: um nhoque congelado para colocar no forno de micro-ondas.
Além do ganho de tempo, o designer vê outra vantagem em comprar na loja de vizinhança: gastar menos com o almoço. Ele pagou R$ 5 na massa congelada. Se fizesse uma refeição num restaurante por quilo da região desembolsaria R$ 17.
Costume. A jornalista Juliana Franco, de 35 anos, casada e mãe de um bebê de 8 meses, contou que costuma frequentar lojas de vizinhança. "É uma mão na roda." Ela vai a esse tipo de loja a cada dois ou três dias. "A vantagem dessas lojas é a rapidez: em menos de dez minutos faço a compra", disse ela.
Na opinião de Juliana, os preços das lojas de vizinhança não são tão diferentes dos preços dos supermercados no caso de itens industrializados. Mas quando os produtos agregam serviços, como a salada pronta para o consumo, o valor cobrado é mais alto.
Fonte: O Estado de S. Paulo