PIB pode crescer até 2,1% em 2017

Os economistas são enfáticos. Para este ano, o quadro já está dado, independentemente do que a equipe chefiada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, venha a fazer. A contração do PIB se manterá até pelo menos o terceiro trimestre e as demissões infernizarão a vida das famílias. A travessia até 2017 exigirá paciência e sangue-frio. Se o time de Temer não recorrer a estripulias, será possível botar a cabeça para fora do atoleiro e respirar.
“A percepção é de que a parte mais aguda do problema político foi superado, e que nós podemos voltar a discutir a economia”, avalia Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, que fará a revisão de seus números apenas no próximo mês. “O viés é de alta para 2017”. Na avaliação dele, a disposição do governo de fazer um ajuste fiscal consistente, assumindo um rombo maior nas contas públicas, de R$ 170,5 bilhões, dá ânimo novo a empresários e investidores.
Para o economista-chefe da Quantitas Asset Management, Ivo Chermont, a mudança de chave do pessimismo para otimismo, ainda que comedido, se deve, basicamente, ao anúncio da equipe econômica. “Os nomes anunciados são bons”, frisa. Ele ressalta que o pequeno crescimento do próximo ano, algo como 0,6%, será proporcionado pela melhora da confiança, em um ambiente que vai se aproveitar de uma base muito deprimida de comparação. Em 2015, o PIB tombou 3,8% e deve ter queda semelhante neste ano.
Quando empresários e consumidores acham que as coisas vão melhorar, a tendência é de que se concretize, de fato, uma mudança positiva. Buccini reconhece, porém, que há divergências consideráveis entre os colegas que já traduziram o otimismo para 2017 em números. A mudança mais radical foi a do Credit Suisse, que saiu de uma queda de 1% do PIB – seria a terceira consecutiva – para alta de 0,5%. A aposta do banco é de melhora do trânsito político do novo governo, o que permitirá a aprovação de matérias que ajudem a governabilidade.
Há, no mercado, ceticismo quanto às chances de avanço da reforma da Previdência e de outras mudanças estruturais. Mas argumenta-se que já seria de grande valor a aprovação de medidas mais corriqueiras, como a Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permitiria realocar até 30% dos recursos que hoje têm destinação obrigatória. Isso facilita o corte de despesas do Orçamento sem provocar o colapso de serviços públicos.
Discrepâncias O Banco Fibra tem a previsão mais favorável entre as já divulgadas, de alta de 2,1% para o PIB em 2017, tendo saído de um incremento de 1%, que já estava acima da média do mercado. O boletim Focus, do Banco Central, prevê alta média de 0,5%. Na visão do economista-chefe do Fibra, Cristiano Oliveira, indicadores da indústria, comércio e serviços sugerem que os empresários acham que “o pior já passou”, e preparam-se para a retomada.
O Morgan Stanley elevou de 0,6% para 1,1% a projeção de crescimento no ano que vem. Para a instituição, em 2016, em vez de o PIB recuar 4,3%, cairá, agora, 3,8%, ficando em linha como a maior parte do mercado. A taxa básica de juros (Selic), por sua vez, baixará de 14,25% para 13,25% até o fim deste ano, com a “maior das políticas econômicas para os próximos trimestres”, na análise do economista-chefe da instituição, Arthur Carvalho.
Para Buccini, a volatilidade nas estimativas se deve à diferença de peso que cada analista atribui ao endividamento das empresas e das pessoas. Ele acha que isso não é tão alto quando alguns imaginam, pelo histórico de alavancagem da maior parte das companhias. O economista admite, contudo, que é difícil ter uma noção nítida disso a partir dos dados disponíveis, limitados a empresas com ações negociadas em bolsa. Analistas de grandes bancos podem ter uma visão um pouco mais clara, a partir dos dados das carteiras de créditos das próprias instituições.
Do Bradesco já veio uma revisão para cima do número de 2017. Subiu pouco: apenas 0,2 ponto. Saiu de 1,3% de alta para 1,5%. O economista-chefe da instituição, Octavio de Barros, atesta que a pesquisa mensal que a equipe faz com 4 mil empresas demonstra que os pedidos em carteira pararam de se reduzir e que os estoques começam a se contrair, o que indica a necessidade de produzir mais.
Fonte: Jornal Estado de Minas