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Pib: queda de 0,3% é mais branda do que se esperava

Pib: queda de 0,3% é mais branda do que se esperava Embora a queda de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2016, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tenha sido mais branda do que se esperava, especialistas alertam para a possibilidade de depressão econômica no País nos próximos anos. O fenômeno ocorre a partir de diferentes características negativas da economia, como prolongamento e profundidade da recessão e problemas estruturais entre os principais causadores do declínio do índice.

De acordo com o professor de economia do Ibmec/MG, Felipe Leroy, a principal diferença entre recessão e depressão econômica está no período de duração. Segundo Leroy, a literatura internacional explica que enquanto a primeira tem um prazo curto, de dois anos consecutivos, o segundo ocorre quando o período de índice negativo se prolonga por mais de três anos seguidos.

“A recessão brasileira teve início no segundo trimestre de 2015 e, partindo do pressuposto de que todas as estimativas dão conta de que também neste ano teremos queda no PIB, assim como no ano que vem, é possível que estejamos em um movimento de depressão econômica no fechamento de 2017. Principalmente, porque ainda não é possível vislumbrar nenhuma perspectiva de melhora do cenário”, diz.

Para completar, conforme o professor, o reequilíbrio das contas públicas do Brasil pede ajustes e medidas que tendem a piorar a situação. Ele se refere ao déficit fiscal deste ano que deverá ficar em R$ 170,5 bilhões. A previsão anterior, feita ainda pela gestão de Dilma Rousseff, era de um déficit bem menor, de R$ 97 bilhões. “Para isso, o governo vai precisar reduzir os gastos e aumentar a carga tributária, entre outras ações. Todas políticas recessivas”, resume.

Leroy chama atenção para o desempenho da indústria, que caiu 1,2% nos primeiros três meses de 2016. “O setor está encolhendo e o País vive um processo de desindustrialização. Nossa indústria não é competitiva lá fora nem aqui dentro. Corremos o risco de virar latifúndio novamente”, alerta.

O vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, defende que, definitivamente, ainda não existe um cenário de depressão econômica no Brasil. “Tecnicamente isso ocorre quando há uma queda entre 8% e 10% e ainda estamos longe desse patamar. O que não quer dizer que o cenário é simples. Pelo contrário, é muito impreciso e tem se prolongado em virtude de problemas estruturais da economia”, explica.

Diante dos números apresentados pelo IBGE ontem, o especialista acredita na possibilidade de uma reversão. “Pode ser que tenhamos chegado ao fundo do poço e agora a tendência é subir”, sugere.

De qualquer maneira, Pettersen admite que a consolidação dessa reversão depende dos fatores que originaram a crise e o principal deles diz respeito à política. “Quando olhamos para essa esfera vemos que a situação é cada vez pior. Havia uma expectativa na troca de Dilma (Rousseff) por (Michel) Temer e o campo está se deteriorando, com o governo interino se complicando cada vez mais”, pondera.

Uma vez resolvida a questão política, conforme o vice-presidente do Corecon-MG, a possível reversão do cenário se consolidará pela demanda externa, impulsionada pelo câmbio, como já vem ocorrendo desde o início de 2016.

Em relação aos índices, Pettersen chama atenção para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que caiu 2,7% de janeiro a março deste ano sobre o mesmo período de 2015. “Em todas as dimensões há declínio e isso porque não há expectativa de mudança. O empresário não investe se acha que o futuro vai ser pior que o presente. Ele prefere a cautela”, avisa.

“O governo poderia compensar isso de alguma maneira, por meio dos investimentos públicos. Mas tanto a gestão atual como a anterior optou por um ajuste fiscal que inclui cortes de gastos ao ponto de inviabilizar os investimentos do País”, justifica.

Fonte: Jornal Diário do Comércio