Preço de frutas descascadas e cortadas na bandeja pode compensar
Comprar a fruta cortada, descascada e embalada nem sempre sai mais caro que sua correspondente natural. A Folha visitou alguns supermercados em São Paulo para pesquisar.
O preço do quilo do abacaxi pode ser 21,4% superior que sua versão fatiada e descascada em uma unidade do supermercado Pão de Açúcar da capital paulista. No St Marche, a melancia natural é 56% mais cara que a vendida em tiras na bandeja.
O debate sobre a "gourmetização" das frutas dominou as redes sociais na semana passada, após um internauta publicar no Twitter a foto de uma mexerica —bergamota, tangerina ou até mimosa, dependendo da região— comercializada sem casca e em gomos em uma unidade da rede Carrefour no Paraná. Nesse caso, houve aumento no preço do quilo, que passou de R$ 2,49 a granel para R$ 2,89 processada.
O Carrefour afirma, em nota, que disponibiliza frutas em porção em algumas unidades "em atendimento à crescente demanda dos consumidores por conveniência."
O Pão de Açúcar explicou que, dependendo da negociação com fornecedores, consegue para os processados preços similares ou próximos aos dos produtos em suas versões inteiras. O St Marche não se posicionou sobre a diferença de preços.
Para Marcelo Secemski, diretor comercial da Fruits Express —empresa que entrega frutas picadas e prontas para consumo em São Paulo—, a ação é uma estratégia para desovar estoques e evitar a perda de produtos com prazo de vencimento próximo. "Frutas são muito sensíveis e perecíveis. Pode ter chegado um carregamento de abacaxi grande, por exemplo, e ficar com o produto é prejuízo para o estabelecimento. Por isso, eles criam atrativos para o cliente comprar."
Paulo Pompilio, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), diz que todo produto processado tem valor agregado e, por isso, é mais caro. Ele credita a existência de frutas fatiadas mais baratas que as naturais ao sistema "oferteiro" do varejo brasileiro.
Adriano Amui, professor da ESPM-SP, explica que o consumidor, em geral, rejeita frutas com cascas manchadas ou feias, ou até quando um pedaço da polpa está estragada. "Como só as partes boas do produto são aproveitadas, o varejo cobra mais barato porque está vendendo algo que seria perdido", diz.
Ele também pondera, no entanto, que a mão de obra envolvida no serviço e a embalagem necessária deveriam tornar o produto mais caro. "Acredito que seja um teste de mercado para criar um hábito de consumo. Se a população aderir, os preços vão subir".
Segundo Pompilio, os alimentos processados ainda são um nicho de mercado pequeno, mas vêm ganhando espaço nas prateleiras. No Pão de Açúcar, é crescente a demanda por saladas cortadas, frutas picadas e produtos de rotisseria.
O público-alvo é de consumidores que moram sozinhos ou em família pequenas e pessoas em busca de uma alimentação mais saudável nos intervalos do trabalho.
"É o reflexo da vida moderna, as pessoas não têm mais tempo de preparar a comida em casa. Parece exagerado, mas há mercado", diz Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo e bens de consumo.
Além da praticidade, a possibilidade de ver o estado da fruta por dentro antes de comprar pesa na escolha. "O mais importante é a certeza de levar um produto bom, sem correr o risco de estar estragado", diz Foganholo.
Foi o que pensou o professor aposentado Paulo Vick, 74. "A outra [natural] tem aparência de fermentada, essa consigo ver que está belíssima", comenta ele sobre as duas bandejas de melão fatiado em sua cesta.
Empresas já entregam tudo em fatias
Empresas em Sãiáro Paulo oferecem serviço de entrega dia de frutas fatiadas e descascadas.
Marcelo Secemski, diretor da Fruits Express, diz que atende de 400 a 500 pessoas por dia, sobretudo em centros comerciais como nas avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini –a concentração de empresas barateia a entrega.
A empresa elege uma fruta principal por dia. O cliente indica até três frutas de que não gosta e, se aquela for a do dia, recebe uma alternativa.
A entrega diária de um pote de 110 gramas custa R$ 79 por mês (R$ 3,59 por dia). Para 210 gramas, o preço sobe para R$ 129 mensais (R$ 5,86 ao dia).
Bananas, maçãs e peras são vendidas inteiras, porque oxidam e escurecem. O valor mensal por uma fruta "in natura" diária é de R$ 38 (R$ 1,73 por dia).
A Frutas na Mesa, fundada por Mariana Ammirabile e três sócios, segue o mesmo esquema. Com cerca de R$ 1,5 a R$ 3,5 por dia, o cliente tem direito a uma, duas ou três frutas.
As "frutas de morder", como bananas, maçãs e pêssegos, também são entregues inteiras. A variedade depende da safra. No inverno, quando a variedade cai, as frutas cortadas ganham espaço. Pedaços de melancia, melão, mamão e manga são entregues em potes de 100 gramas.
"Quando a pessoa está em casa, até consegue fazer uma sujeirinha para descascar uma fruta, mas no ambiente corporativo, onde as cozinhas, quando existem, são minúsculas, é muito mais difícil", diz Ammirabile.
OUTRO CAMINHO
Rafael Colombo criou a Frutetto, em 2013, mas logo percebeu que a concorrência com os supermercados era dura. Perdia até 90% de uma caixa de maçã. "Não tinha licença para manusear alimentos, não podia processar nada."
A solução foi mudar o público-alvo. Agora, a Frutetto entrega frutas naturais em quantidades maiores para bufês e restaurantes. "Não fico com o ônus de ter muitas estruturas para viabilizar o negócio."
O preço do quilo do abacaxi pode ser 21,4% superior que sua versão fatiada e descascada em uma unidade do supermercado Pão de Açúcar da capital paulista. No St Marche, a melancia natural é 56% mais cara que a vendida em tiras na bandeja.
O debate sobre a "gourmetização" das frutas dominou as redes sociais na semana passada, após um internauta publicar no Twitter a foto de uma mexerica —bergamota, tangerina ou até mimosa, dependendo da região— comercializada sem casca e em gomos em uma unidade da rede Carrefour no Paraná. Nesse caso, houve aumento no preço do quilo, que passou de R$ 2,49 a granel para R$ 2,89 processada.
O Carrefour afirma, em nota, que disponibiliza frutas em porção em algumas unidades "em atendimento à crescente demanda dos consumidores por conveniência."
O Pão de Açúcar explicou que, dependendo da negociação com fornecedores, consegue para os processados preços similares ou próximos aos dos produtos em suas versões inteiras. O St Marche não se posicionou sobre a diferença de preços.
Para Marcelo Secemski, diretor comercial da Fruits Express —empresa que entrega frutas picadas e prontas para consumo em São Paulo—, a ação é uma estratégia para desovar estoques e evitar a perda de produtos com prazo de vencimento próximo. "Frutas são muito sensíveis e perecíveis. Pode ter chegado um carregamento de abacaxi grande, por exemplo, e ficar com o produto é prejuízo para o estabelecimento. Por isso, eles criam atrativos para o cliente comprar."
Paulo Pompilio, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), diz que todo produto processado tem valor agregado e, por isso, é mais caro. Ele credita a existência de frutas fatiadas mais baratas que as naturais ao sistema "oferteiro" do varejo brasileiro.
Adriano Amui, professor da ESPM-SP, explica que o consumidor, em geral, rejeita frutas com cascas manchadas ou feias, ou até quando um pedaço da polpa está estragada. "Como só as partes boas do produto são aproveitadas, o varejo cobra mais barato porque está vendendo algo que seria perdido", diz.
Ele também pondera, no entanto, que a mão de obra envolvida no serviço e a embalagem necessária deveriam tornar o produto mais caro. "Acredito que seja um teste de mercado para criar um hábito de consumo. Se a população aderir, os preços vão subir".
Segundo Pompilio, os alimentos processados ainda são um nicho de mercado pequeno, mas vêm ganhando espaço nas prateleiras. No Pão de Açúcar, é crescente a demanda por saladas cortadas, frutas picadas e produtos de rotisseria.
O público-alvo é de consumidores que moram sozinhos ou em família pequenas e pessoas em busca de uma alimentação mais saudável nos intervalos do trabalho.
"É o reflexo da vida moderna, as pessoas não têm mais tempo de preparar a comida em casa. Parece exagerado, mas há mercado", diz Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo e bens de consumo.
Além da praticidade, a possibilidade de ver o estado da fruta por dentro antes de comprar pesa na escolha. "O mais importante é a certeza de levar um produto bom, sem correr o risco de estar estragado", diz Foganholo.
Foi o que pensou o professor aposentado Paulo Vick, 74. "A outra [natural] tem aparência de fermentada, essa consigo ver que está belíssima", comenta ele sobre as duas bandejas de melão fatiado em sua cesta.
Empresas já entregam tudo em fatias
Empresas em Sãiáro Paulo oferecem serviço de entrega dia de frutas fatiadas e descascadas.
Marcelo Secemski, diretor da Fruits Express, diz que atende de 400 a 500 pessoas por dia, sobretudo em centros comerciais como nas avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini –a concentração de empresas barateia a entrega.
A empresa elege uma fruta principal por dia. O cliente indica até três frutas de que não gosta e, se aquela for a do dia, recebe uma alternativa.
A entrega diária de um pote de 110 gramas custa R$ 79 por mês (R$ 3,59 por dia). Para 210 gramas, o preço sobe para R$ 129 mensais (R$ 5,86 ao dia).
Bananas, maçãs e peras são vendidas inteiras, porque oxidam e escurecem. O valor mensal por uma fruta "in natura" diária é de R$ 38 (R$ 1,73 por dia).
A Frutas na Mesa, fundada por Mariana Ammirabile e três sócios, segue o mesmo esquema. Com cerca de R$ 1,5 a R$ 3,5 por dia, o cliente tem direito a uma, duas ou três frutas.
As "frutas de morder", como bananas, maçãs e pêssegos, também são entregues inteiras. A variedade depende da safra. No inverno, quando a variedade cai, as frutas cortadas ganham espaço. Pedaços de melancia, melão, mamão e manga são entregues em potes de 100 gramas.
"Quando a pessoa está em casa, até consegue fazer uma sujeirinha para descascar uma fruta, mas no ambiente corporativo, onde as cozinhas, quando existem, são minúsculas, é muito mais difícil", diz Ammirabile.
OUTRO CAMINHO
Rafael Colombo criou a Frutetto, em 2013, mas logo percebeu que a concorrência com os supermercados era dura. Perdia até 90% de uma caixa de maçã. "Não tinha licença para manusear alimentos, não podia processar nada."
A solução foi mudar o público-alvo. Agora, a Frutetto entrega frutas naturais em quantidades maiores para bufês e restaurantes. "Não fico com o ônus de ter muitas estruturas para viabilizar o negócio."
Fonte: Folha de São Paulo