Ritmo de queda do varejo supera as previsões

Ainda piores foram os dados do comércio varejista ampliado (-0,3% no mês, -8,5% entre abril de 2014 e 2015 e -6,1% no ano). Se entre março e abril as vendas de veículos chegaram a crescer 4,4%, num resultado fora da curva, elas caíram 19,5% em relação a abril de 2014 e 16% neste ano. Das 29 montadoras de veículos, 15 já paralisaram ou preveem parar parcial ou totalmente a produção de fábricas, elevando o número de trabalhadores em férias ou em lay off, ante a redução à metade do uso da capacidade instalada. Foi o pior resultado para um mês de abril desde 2003, quando as vendas do varejo restrito caíram 3,7% em relação às de abril de 2002, em plena fase de ajustes do primeiro ano do governo do PT.
O cenário é corrosivo: juros reais altíssimos afastam os consumidores do crédito ao consumo, pois é preciso concentrar os esforços no pagamento das prestações da casa própria. Por isso é muito atingida a venda de veículos, motos e bens de consumo durável. Poucos itens escaparam das quedas, como artigos farmacêuticos, cuja alta de preços sustenta a receita das vendas.
A recuperação mensal do varejo de alimentos e supermercados também pode ser explicada pela alta de preços. Quando se comparam os últimos 12 meses até abril, com os 12 meses anteriores, ainda há uma elevação de vendas, mas de apenas 0,2% no varejo restrito, e uma queda de 4,1% no varejo ampliado. É muito provável que o recuo das vendas no comércio varejista resulte, dentro de alguns meses, em queda de preços, contribuindo para refrear os patamares ainda muito elevados dos índices gerais de inflação. É a leitura mais positiva do que ocorre hoje na atividade varejista.
Mas, até que isso aconteça, a economia deverá seguir um ajuste doloroso, com aumento do desemprego, menos PIB e menos renda real, em detrimento de trabalhadores e consumidores.
Fonte: O Estado de S. Paulo